Ao Virar da Esquina (Conto)
A noite já ia longa em Annecy, quente de Verão, convidando com inocência para uma volta para apanhar pirilampos. Três crianças, eu, a minha irmã, e a nossa prima, que sendo local comandava a caminhada no cimo dos seus 11 anos. Fomos subindo na berma de uma estrada que praticamente era deserta por aquelas horas, e chegamos ao momento de decidir em deixar de estar a uma longa linha recta de casa, ou virar à direita para levarmos mais longe o nosso objectivo. Intrometendo-se nessa indecisão surgiu um carro que parou perto de nós, os faróis acendendo o nosso sistema interno de alerta. O vidro do condutor baixou, e de dentro do carro saiu uma voz calma, uma calma sábia, com um plano definido.
"Vocês estão perdidos?", perguntou o condutor, e o olhar da presumível mulher espreitou para nos medir.
"Não, a nossa casa é já ali, obrigado.", respondeu assertiva a minha prima. A insistência na pergunta inquietou-nos, por momentos preferia não perceber francês par anão sentir naquelas palavras a vontade de que a nossa resposta fosse outra… E eis que as portas da frente do carro se abrem ao mesmo tempo, e eu entro num congelador interno, sem reacção, os pés enterrados no alcatrão. A minha prima comanda a ordem de fuga e desata a correr, seguindo-se a minha irmã, que num acto de desespero para me retirar do estado de paralisia me grita para correr, seguindo-se a minha mão. Os minutos seguintes pareceram horas agoniantes, e quase como um gozo do destino vários carros apareciam agora das duas direcções, deixando-nos sempre na expectativa.
Chegamos ilesos a casa, mas a tremer conhecemos o sabor do pânico.
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