Calça Outros Sapatos

Acordei, abri os olhos
Vejo o mundo outra vez
Da mesma forma e perspectiva
Mortos de cansaço assim me vês
Como eu te vejo a ti
Sem conheceres o que vivi
Lemos um título que diz:
"Esta é só a minha capa...fim"

Então o dia passa
Os gestos são os mesmos
Desde sempre assim parece
Desde que se pense
Os mudos pensamentos
Fechados a sete chaves
E por isso exteriorizamos
Nada do que temos cá dentro

Deitei-me, fechei os olhos
Vejo-me num sonho outra vez
Sempre diferente e realista
Vivo de adrenalina assim se fez
Justiça ao que sinto
E com legendas para o que digo
Sussurrei baixinho:
"Se agora alguém me visse..."

Então eu despertei
Sem saber para onde ia
Direccionei o olhar para lá
Do normal dia-a-dia, lá está
Somos mais que gestos repetidos
Enfim, sós e a salvo dos ruídos
Podemos ler nas entrelinhas
De um livro aberto, o seguinte:

"Tenho páginas e páginas
Em que estou descalço
Outras tantas calçado
Se me queres perceber melhor
Não deixar entregue à sorte
Tudo o que é falado
Faz-te um favor e de quando em vez
Calça outros sapatos."