Ela estava farta. O mundo girava ao contrário, os ponteiros do relógio não faziam sentido, e assim mesmo ela juntava-se ao fluxo de corpos que inundava cada rua que surgia no caminho espontâneo numa tarde fria de Inverno. A rota era ditada pela mecânica dos passos, muito afastada de tudo o que importava, ela não estava verdadeiramente ali. Curioso como funcionámos, todos nos conseguem ver ali com os pés assentes no chão, mas não haverá ninguém que seja capaz de encontrar a mínima pista sobre onde a nossa mente está, onde nos vemos naquele momento, com quem, quando, uma realidade paralela protagonista dos nossos sentidos. E assim seguia, à vista de todos mas invisível. Talvez o hábito, se calhar o íman da paisagem, alguns dirão o destino, outros o acaso puro, seja como for, o desencontro interior dela levou-a até ao rio, de água e de gente a preencherem todos os espaços. Num dia normal sentir-se-ia sufocada pela sobrepopulação, mas aquela tarde não era normal. De algum modo a agitação a...