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"Matei-o" - Teatro

O resultado da junção de 9 monólogos da obra "crimes exemplares" de Max Aub foi este, com confissões peculiares de personagens que no fundo... só queriam sossego, coitadas... https://www.facebook.com/antonysousa10/videos/vb.100000047167396/1201844059827155/?type=2&theater

O despertar do fiel lutador

Foi no 10 do 10 de 2010. À partida já uma data fácil de lembrar, mas que viria a tornar-se impossível de esquecer. Eis as memórias desse dia, noite, madrugada, o que quer que tenha sido, que respiram com intensidade na minha mente.

Abrir os olhos foi um desafio maior do que o normal. Parecia que tinha o peso do corpo nas pálpebras, e que não tinha nada mais para mexer. Conseguia ouvir pequenas vozes a cochichar, mesmo abaixo da minha cabeça. Não como se me estivessem a sussurrar ao ouvido, mas pequenos seres a confraternizar no mínimo espaço entre o meu cabelo e o chão. Imediatamente senti o cheiro a mar, mas não sentia estar próximo de um. As minhas narinas dilatavam inspirando o aroma de baunilha e coco, os meus preferidos. Contudo sentia o prazer que eles me davam a desvanecer a grande velocidade, o que me apercebi que acontecia consecutivamente, causando uma sensação infindável de frustração. Durante uns penosos 10 minutos combati contra mim mesmo, até finalmente reconhecer cores e ter a certeza de que as retinas ainda captavam alguma coisa. Não havia muitas, cores à primeira vista eram só o cinzento da terra e o escuro peculiar do céu. Não o normal de uma noite, era um escuro brilhante. O céu esse de normal também tinha pouco ou nada. Era espelhado, via bem no fundo a expressão de crescente desconfiança no meu rosto. Não havia nuvens nem estrelas, apenas escuridão incandescente, luz negra quase palpável que permitia perceber que me encontrava onde nunca antes havia posto os pés.
Estava deitado em posição embrionária, e para me sentar tive que suportar todo o meu peso (que passou de nulo para um cachalote) no meu braço esquerdo, enterrado agora na terra húmida. Faço um último esforço para me levantar quando um riso estridente me gela a espinha. Ouvi alguém a mandar calá-lo, dava a ideia de querer impor a ordem. Se antes o meu corpo estava como que preso por correntes invisíveis, agora não sabia o que fazer, se correr na outra direcção, esperar para perceber quem era, pedir ajuda, esconder-me... tudo me passou pela cabeça. Mas não rápido o suficiente para tomar uma decisão, e então a origem desta paralisia momentânea precipitou-se até mim.

(To be continued)

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