Publicação em destaque

"Matei-o" - Teatro

O resultado da junção de 9 monólogos da obra "crimes exemplares" de Max Aub foi este, com confissões peculiares de personagens que no fundo... só queriam sossego, coitadas... https://www.facebook.com/antonysousa10/videos/vb.100000047167396/1201844059827155/?type=2&theater

O despertar do fiel lutador

(...)

Chegamos a um ponto onde estávamos rodeados de buracos do comprimento de uma pessoa, por exemplo… como eu. Era fácil descortinar que alguns tinham sido tapados entretanto. Logo tentei libertar-me dos dois homens que ainda me seguravam, mas aí fui confrontado com a força do homem de pele dourada, enquanto que o de cor de chocolate apesar do esforço era arrastado pelo meu braço direito. Nesse instante quando olho em frente, cinco unhas longas e afiadas apontavam aos meus olhos a escassos centímetros. A mulher inclinando a cabeça ligeiramente para o seu lado direito, passou a língua sob os dentes superiores.
“Nãaoooo!!! Por favor nãooo!! Eu não me mexo, prometo! Juro!!” , não contive o pavor que a imagem de ser devorado por alguém que me parecia cada vez menos humano, me provocava na mente.
“Mimi não!!!” , exclamou o homem de bigode, desesperado.
“Ai que drama queens. Não te preocupes, que ele é todo teu.” , disse a mulher revirando os olhos e retirando as enormes unhas do meu campo de visão. Podia jurar que as tinha visto a encolherem…
“O que querem que faça?!”, perguntei em busca da saída daquele pesadelo o mais depressa possível, custasse o que custasse.
“Hum.. ‘tás a ver este buraco aqui? Não é p’ra ti calma… eheh caem sempre nisto… o teu é mais este!!” , e com um movimento ágil e invulgarmente rápido, o homem felino surgiu atrás de mim, e com a ajuda do homem de pele dourada projetaram-me para um dos buracos espalhados abaixo da terra do bosque.
Tinha uns 5 metros de profundidade, e quando atingi terreno sólido, surpreendentemente não senti o impacto. Era como se me tivesse atirado para uma almofada gigante.
“Estás bem? Ele está bem não está? Eu sei que me disseram que não havia dor, mas quero ter a certeza.” , acabou por perguntar atrapalhado o homem de bigode.
“Ele está bem, com o meu também foi assim e não se queixou.”, disse o homem cor de chocolate.
“Tirem-me daqui, vocês não me podem fazer isto!! Isto é só um pesadelo, tenho que acordar, é isso sim tenho que acordar… ACORDA!!!” , esbofeteei-me duas vezes, o que se revelou inconsequente, pois quando voltei a abrir os olhos o cenário era o mesmo.  Visto de baixo os seres pareciam ainda menos humanos, e o céu tinha agora uma vibrante luz branca situada mesmo no centro de onde estava deitado.
A mulher pareceu cortar pela raiz uma possível intervenção do homem de bigode com o olhar, e de seguida, disse-me:
“ Boa viagem.”

(To be continued)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Matei-o" - Teatro