Ser Vivo 1 - A sério esta gente tira-me do relax.
Ser Vivo 2 - O que é que se passou agora?
Ser Vivo 1 - Fui perguntar àquela rapariga se era daqui e ela olhou-me
como quem: “olha-me este quer-me comer”, e numa espécie de “estava eu no
portento da minha solidão e vem este martelo estragar tudo”, como se eu lhe
tivesse dito alguma coisa de mal.
Ser Vivo 3 - E não estavas a ver se metias conversa para a comer?
SV1 - Ei!! Linguagem pá, olha o nível!!
SV3 - Ai desculpa! Como é que é? “Levar as almas para um tango na
cama”. Se ainda o resultado fosse diferente.
SV1 - Enfim estava, mas não é essa a questão. A questão é que
esta gente anda toda em parafuso! Vivemos num mundo globalizado e tal, mas mais
preso que nunca. Desconfiamos uns dos outros como se a cada esquina pudéssemos
encontrar um espião russo. E é altamente improvável que sejamos abordados por
um espião, russo e especialmente que queira alguma coisa que ver com este
Portugal. Não me lixem, mas a probabilidade deve andar por aí nos 0.01%.
Basicamente é tudo “liberdade para dentro da cabeça”, mas na verdade é como se
alimentassem uma prisão mental. Por exemplo, Rita, como é que reagias se eu te
abordasse como abordei aquela rapariga?
SV2 - Provavelmente ria-me na tua cara, desejava-te boa sorte
pois irias precisar muito dela, e virava-te as costas.
SV1 - Vá lá pelo menos contigo há um prémio de consolação no fim.
Mas cá está o que queria dizer ‘tás a ver. O pessoal põe-se todo a postar cenas
como “um homem que é homem é x, y e z, e tem que perceber que blá blá blá, e
fazer coiso e tal e tal e coiso.”, e depois se alguém quase que por destino
lhes dá a possibilidade de aumentar as chances de conhecerem alguém assim…
mandam tudo ao ar só por causa do egozinho social.
SV2 - O facto de citares que o que é postado é à base de “blá blá
blás” e “coisos e tais” provavelmente diz muito do porquê de não perceberes o
que as faz rejeitarem a abordagem.
SV1 - Ah ah ah hilariante Oprah… O que é certo é que todos desejam que algo de especial lhes
aconteça, Hollywood style, mas sempre que algo de diferente lhes aparece pela
frente ou fogem ou atiram todas as pedras que têm à mão. E ás vezes juro que
são mais que 7! E nunca percebi essa das 7 pedras de qualquer forma, quem é que
vai andar com 7 pedras na mão? O Adamastor?!
SV3 - Melhora mas é o teu tango e depois logo falas nisso pá.
SV1 - Fala o gajo que anda com a mesma praticamente desde que
largou a chucha e encontrou outra! A culpa é destes rótulos e destas ideias
quadradas que as pessoas usam para pré-definir padrões sobre aquilo que acham
que os outros são com base em teorias da treta. A rapariga que aceite conversar
com um estranho é oferecida? Claro que não! Corre um grande perigo de vida?
Claro que não! Não estamos a falar de uma menina de 7 anos a entrar numa
carrinha do homem dos gelados. As pessoas são livres de perceber se vale a pena
conversar e conhecer melhor alguém ou não, mas decidir antes de haver uma
decisão por tomar é uma cena de robôs sinceramente. Para mim, as pessoas estão
cada vez mais mecanizadas, sabem sempre de antemão como vão reagir se isto ou
aquilo lhes acontecer, mas a vida não é assim carago! Uma pessoa a abordar-te
não tem que ser igual a outra pessoa a abordar-te ou isto é assim tão de
doidos?! Se é “OUTRA” pessoa… é OUTRA situação!
SV2 - Ouve, até tens alguma razão, mas tens de perceber que não
és tu que tens que levar com as mesmas tretas várias vezes de vários gajos
diferentes. É normal que passado um tempo se usas os mesmos meios que eles,
mesmo que com diferentes métodos, automaticamente o cérebro usa a informação
que tem sobre gajos que abordam daquela forma e protege-se.
SV1 - Pronto, mas lá está o problema continua o mesmo. Os gajos
só são assim porque têm todos medo de dizer algo genuíno, que seja só deles,
que haja o risco de serem gozados por algo que só eles podem ser gozados.
Tentam só arranjar o mais original daquilo que já foi utilizado, ou seja já não
é original na realidade. Mas também não posso chegar a uma pessoa e dizer-lhe
um conjunto de coisas únicas e fora do contexto só para chamar a atenção de que
não sou como os outros porque isso sim seria creepy! Há que dar primeiro uma
oportunidade para um tipo se mostrar minimamente aos poucos.
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