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"Matei-o" - Teatro

O resultado da junção de 9 monólogos da obra "crimes exemplares" de Max Aub foi este, com confissões peculiares de personagens que no fundo... só queriam sossego, coitadas... https://www.facebook.com/antonysousa10/videos/vb.100000047167396/1201844059827155/?type=2&theater

Sonhando Em Voz Alta

Capítulo 1


Olá, tudo bem? Olhem não tenho muito tempo, daqui a minutos estarei na cama para uma boa noite de sono e sonhos. Mas antes tinha que vos contar o que me aconteceu ontem! Se calhar assim podem também aprender como eu aprendi. Os nossos cérebros têm muitas surpresas para nós, às vezes só precisamos de abrir a porta aos sonhos, para podermos voar até sítios até então impossíveis. Porque vamos aprender hoje como as palavras "perfeito" e "impossível" podem pregar-nos partidas, mas também podem ser nossas amigas.
O dia tinha corrido bem, tinha estado com os meus amigos na escola, tínhamos brincado no recreio, aprendi coisas novas, inclusive a palavra "inclusive" que agora irei incluir mais no meu vocabulário, e até acho que a Marta sorriu para mim quando fui ao quadro resolver uma conta de dividir com 10 dígitos! Portanto estava tudo a correr de feição, até que chega o meu treino de futebol. Jogo no Varzim Sport Clube, nos infantis. Depois de uma corrida e uns alongamentos o treinador formou duas equipas para trinta minutos de jogo. Pois eu fui para a equipa dos coletes, e como eram equipas de sete, e nós somos 21, eu fui dos sete... a ficar de fora. Entrei nos últimos dez minutos, e nem sequer para a posição que eu acho que pode ser melhor para mim, eu sei que o treinador é que sabe e tudo isso, mas eu acredito mesmo que eu posso ajudar mais a equipa como avançado, a marcar golos! Enfim, ele colocou-me a defesa direito porque diz que tenho bastante resistência, e naquela posição é preciso correr muito para fazer todo o corredor, mas em dez minutos como é que podia ajudar tão longe da baliza?! E ainda por cima a equipa dos coletes a perder três a um! Desculpem, isto agora é tão importante como um grão de areia no deserto, mas quando começo a falar de futebol é difícil parar! Desde muito pequeno (tenho 10 anos, já cheguei aos dois dígitos, ainda não sou grande, mas já cheguei aos médios pelo menos) que vejo futebol na televisão e vibro. Salto, esperneio, grito, festejo, simulo remates no ar, cabeceio uma bola invisível quando há cruzamentos para a área, e até dou uma ajudinha à defesa atirando-me para agarrar os remates da outra equipa! Ainda é algo que tenho de experimentar, ir à baliza, muitos meninos preferem fugir da baliza mas eu acho que é preciso muita coragem para ser guarda-redes! Muitas vezes não estamos a jogar bem e é o Filipe, o nosso guarda-redes, que nos safa, e nos permite estar a 5 pontos do 1º classificado. Eu acredito no título este ano, temos boa equipa, e se o Joel continuar a fazer aqueles passes eu acho que... oh desculpem, lá estou outra vez a falar demais daquilo que interessa menos para agora. O que aconteceu foi que naqueles dez minutos para além de ter jogado noutra posição, ainda fiz um auto-golo, já depois de termos recuperado e de chegarmos ao 3-3, o que fez com que perdêssemos o jogo. O resto do treino custou-me muito porque vi como alguns dos meus colegas de colete tinham ficado chateados, e como agora de certeza que não ia ser titular no próximo jogo.
Cheguei a casa cabisbaixo, e o meu pai perguntou-me logo o que se passava, mas eu encolhi os ombros e respondi com "nada pai", que na realidade queria dizer "sou mesmo fraco, devias tirar-me do futebol como castigo por ser tão fraco, porque é que me mentes quando dizes que sou craque se nunca vais ver os meus jogos?!". Bom, seguiu-se o jantar, mal toquei na comida, e ouvia como se estivesse bem longe, quase como se existissem quatro paredes a separar-me da voz da minha mãe a dizer "Pedro, come o frango. Tu gostas tanto e estás aí a brincar com a comida", mas a última coisa que me apetecia fazer naquele momento era brincar. Para que não ficassem preocupados comigo lá acabei de comer a perna do frango, e fi-lo depressa, porque só queria ir para o meu quarto deitar-me na cama e imaginar as cento e doze formas diferentes possíveis de abordar aquele lance que deu em auto-golo. Doze delas davam em canto, quarenta e quatro em lançamento de linha lateral, trinta e seis um balão para a frente para aliviar, dezanove num atraso perfeito para o guarda-redes agarrar, e uma ainda em que dominava a bola, passava por toda a equipa dos não-coletes e marcava o golo da vitória... e já na minha cama foi com esta imagem a pairar em cima da minha cabeça que adormeci.

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